Amigos de infância

Tenho dois amigos de infância, irmãos de sangue, e que, comigo, formam um trio de irmãos de facto. Juntos vivemos as dores e as alegrias do crescimento. Nesta altura vêmo-nos pouco. A idade adulta trouxe-nos trabalho, mulher, filhos, e também interesses diferentes.
Há uns dias estivemos juntos, a propósito do aniversário do filho de um deles. Vi entrar um convidado, um tipo com um metro e noventa, cuja cara não me era estranha. Quando o ouvi falar azzim, recordei uma cena com vinte anos, em que o agora calmeirão deveria ter uns 12 anos. Nessa cena, um dos meus amigos dizia-lhe, enquando me piscava o olho: "Puto, diz Macdonalds". "Mazzdonaldz", respondia o puto. E nós, malevolamente mas, ao mesmo tempo, sem o pudor que os anos trazem, riamos sonoramente. Ao recordar a cena, fugi para a cozinha. Um ataque de riso juvenil agarrou-me e não me consegui controlar. Os meus amigos seguiram-me, questionando o ataque. Quando lhes avivei a memória, chorámos a rir num cantinho, agarrados uns aos outros, tal como nos old days.
Acho que só eles consigo rir com tanta liberdade. Rir de tudo, e muito. Não tenho nada a esconder, nada a disfarçar, nada a provar quando estou com eles. E é bom. Continua a ser bom.

NG