domingo, abril 17, 2005

A Caminho do Título (I)

No shopping, a multidão não tem o ritmo de passeio usual. A maioria, com cor uniforme, parece vinda do metropolitano e segue para a mesma saída. Lá fora, uns arcos de metal vermelho apontam o destino. As caras revelam mais expectativa que entusiasmo, sinal de que a fé ainda se sobrepôe à confiança. O estádio está praticamente cheio e a poucos minutos do início do jogo ainda se discute quem é que está sentado no lugar de quem. O jogo começa e sempre que o Leiria ataca, um idoso atarracado grita ao meu ouvido "Está-se a preparar!". Pouco depois, cruzamento, Quim não sai, Rocha salta pouco, golo do Leiria. Atrás de mim, uma jovem desfila um manancial de palavrões, que dificilmente poderia utilizar noutro lado. Alguém se queixa de Quim. Sou eu. Costinha defende, volta a defender, não para de defender. Tentei recordar um guarda-redes que tivesse jogado mal na Luz. Não consegui. O público pede Mantorras, como quem pede esperança. Trapatoni faz-nos a vontade e a esperança entra. O tipo à minha frente pontapeia a cadeira, o tipo ao lado dele diz-lhe para dizer adeus ao título. Eu continuo a dizer-lhe olá, enquanto indico ao meu pai que ainda temos muito tempo. Mantorras marca. Mais uns minutos e Mantorras quase marca. Ainda estamos à frente e eu continuo a ver o título. Até para a semana.

NG