quarta-feira, abril 13, 2005

A sinceridade das militâncias

Votei a favor da liberalização do aborto no último (único) referendo. E votei apesar de reger a minha vida pela lei actual. Mas tenho consciência, e, como cidadão, tenho que ter, que nem toda a gente tem o mesmo nível de informação, de estabilidade (social e financeira) e até a mesma idade que eu. Pelo que afirmei, não sou um militante da liberalização do aborto, sou um apoiante circunstancial que, apesar de não concordar com o conceito, vê que a prática obriga a esta medida, por forma a salvaguardar a dignidade e a saúde das mulheres.

Pelo que observei no período pré-referendo, e que ainda observo agora, os militantes mais ferverosos da liberalização, adoptam um discurso radical e mesmo ofensivo relativamente a quem a condena. Concedo que certas posições são inacreditáveis, especialmente nos dias de hoje. Mas o que me parece certo, é que o radicalismo de certas posições pró-aborto, acaba por afastar as pessoas relativamente neutras, ou com dúvidas, do voto, com reflexo na taxa de abstenção do referendo, que foi altíssima. Seria mais sensato abordar um assunto que não é nada pacífico de forma mais informativa, explicando o que está em causa na prática, não levando a discussão para questões ideológicas, o que só serve para não se discutir o tema em concreto.

Textos destes são, pelo que acabei de referir, contraproducentes. E até me levam a pensar se a militância pela liberalização do aborto, para alguns, não será apenas uma desculpa para o insulto e para uma espécie de ajuste de contas com certos sectores da sociedade portuguesa.

NG