quarta-feira, junho 28, 2006

O Sr. Scolari

Scolari, no espaço de um mês, passou de incorrigivel arrogante a líder visionário. Besta a bestial, pois então. Tal e qual como aconteceu com o mesmo personagem no Euro 2004, e com centenas de outros, desde que alguém se lembrou que andar a correr atrás de uma bola era uma actividade mais divertida do que cansativa.
Excessos à parte, porque o futebol é uma actividade séria, pelo menos eu assim o entendo, Scolari tem mais defeitos que virtudes. Com bons jogadores, as suas virtudes escondem os defeitos. Explico: Scolari combina muito bem tomates (virtude nº1), com simpatia (virtude nº2). A primeira faz com que as vedetas se sintam normais, a segunda faz com que os normais se sintam vedetas. Daí vermos o Figo a fazer carrinhos e o Maniche a marcar golos. Daí ele não convocar vedetas que não queiram ser normais (Romário) e normais que não se deixam convencer que podem ser vedetas (Ricardo Rocha). Se Scolari apresentasse apenas uma destas virtudes, seria um enorme fracassado. Ou se treinasse uma equipa sem vedetas ou só com vedetas. Scolari nunca faria um bom trabalho com a Coreia do Sul ou com a Austrália, nem com o Real Madrid ou o Barcelona. Porquê? Porque Scolari é um quase zero tacticamente (defeito nº1) e não tem criatividade (defeito nº2). O seu Brasil jogava sempre em 3-5-2 e sempre com o mesmo 11. Com o Brasil, ou seja, com Cafu-Roberto Carlos-Ronaldinho-Rivaldo-Ronaldo e companhia, isto chegava. Já com Portugal, no Euro, a coisa complicou-se. Só alterou o 11 depois do descalabro do 1º jogo e mesmo assim manteve o Pauleta até à final. Táctica, o 4-1-2-3, nem mesmo com a Grécia na final mexeu. Mas com Ricardo Carvalho-Deco-Figo-Ronaldo isto quase que chegou.
No mundial, a sua equipa é o reflexo disto: mexer na táctica só mesmo com expulsões, mexer no 11 só por expulsões, ou risco de, ou lesões.
Vou repetir-me: Com bons jogadores, as virtudes de Scolari escondem os seus defeitos. A estabilidade táctica e do 11 titular garante segurança e fiabilidade. Trouxe-nos até aos quartos e chegará, estou certo, para ganhar à Inglaterra. Mas contra o Brasil é mais complicado. Pelo menos trocar o Pauleta pelo Nuno Gomes, hein, Sr. Scolari?

NG