A propósito
A propósito do 80 à hora, lembrei-me de ir buscar uma "coisinha" ao baú.
Os anos 80 a 80 à hora eram assim. O mundo parecia girar sempre na direcção errada e toda a gente com mais de 28 anos era terrivelmente responsável e estúpida. O Herman vibrava na TV e o que havia de mais sensual em horário diurno eram as locutoras de continuidade. A actriz mais sexy era a Helena Isabel que me deixava louco e as coelhinhas do Tony Silva duravam horas na minha cabeça. O Dallas fazia-nos agarrar à Caixinha Mágica horas a fio e esperar que o JR fosse, quem sabe naquele episódio, vencido pelo Bobby, o bonzinho. A Sue Ellen agarrava bebedeiras de meia noite enquanto a prima loura mostrava as mamas em horário nobre. A Super Mulher aparecia aos sábados bem como o Buck Rogers e o seu fiel amigo, biri biri biri. Já aos Domingo, Luis Pereira de Sousa e/ou Julio Isidro alternavam na animação - e que animação.
No panorama nacional, tínhamos terroristas à solta e assaltos a bancos de vez em quando, o que nos fazia sentir, a nós, malta jovem, um certo cosmopolitismo latente a despontar. Já não era idade para as matinés do Loucuras mas nem sempre era fácil entrar à noite noutros locais tipo Bananas, BBA, News ou até mesmo Coconuts. Os bares da moda para quem morava na Linha eram todos onde se pudesse apanhar uma “carroça” sem gastar muito, onde houvesse miúdas giras e música porreira. Nessa altura, acho que todos os bares eram assim.
A escola era apenas uma passagem e os objectivos de vida tinham uma duração de 24 horas. O dia seguinte era apenas isso a importância que ganhava ou não dependia do que se tinha para fazer. Na escola era bom estar com os amigos, com as amigas e uma seca ir às aulas. Os livros ficavam em casa e o caderno “geral” ia dobrado no bolso de trás das calças. Sempre A4, quadriculado e preto. Isto a partir do segundo período, porque no primeiro ainda havia um caderno forrado com fotos de surf, modelos nuas ou quase, palavras chave e muita cor. Era sempre um bom cartão de visita para adquirir estatuto. E era sempre uma forma delas meterem conversa “deixa-me ver esse caderno”. A noite ainda era mágica e as 7 da manhã funcionavam como um patamar que, uma vez atingido, garantia porra nenhuma mas de uma importância tal que fazia impressão. Nem que se chegasse a casa às 3 e se passasse 4 horas a jogar tetris. 7 da manhã eram 7 da manhã. Os transportes mais usados eram a pendura de mota, a mota emprestada, o 51 de Alcântara para Algés ou o combóio para Lisboa. À vinda, dependia da hora. Não foi uma nem duas (nem 3 for all that matters) que viemos a pé do Cais do Sodré até Linda a Velha. O tempo não tinha limite e os relógios só serviam para ter ou não mais pinta. Ficava bem, pronto. Os santos populares eram obrigatórios – mas sem bifanas ou sardinhas que o dinheirinho para a imperial tinha que ser esmifrado. Com a confusão, era mais fácil sacar uma cerveja aqui outra ali sem pagar. Era também mais fácil pendurarmo-nos no eléctrico até Algés. Aliás, acho que o eléctrico a determinadas horas nessas noites tinha tanta gente lá dentro como pendurada. O sexo começava a ser um objectivo, uma necessidade, uma obsessão. Era preciso arranjar alguém, uma miúda, uma boazona, uma gaja lá da escola, uma que nos desse troco. A linha – para mim- era uma cara bonita. Sem cara bonita nada feito. Sim, tem umas mamas grandes, mas porra, já olhaste bem para aquela tromba? Alguém ficava com ela encostadinho a uma parede. As escadas dos prédios eram bons locais e ser apanhado a fazer coisas boas era uma sina. Quem é que chega a casa às três e meia da manhã? Ninguém, a não ser aquele velhote que nos apanhou e nos disse depois: se eu soubesse o que estavam a fazer esperava um bocadinho lá fora. Grande. Os 15 anos foram isto tudo e muito mais que o álcool deve ter apagado e as memórias recentes não deixam vir ao de cima. As asneiras foram muitas, a irresponsabilidade, o perigo. Mas como ao menino e ao borracho põe deus a mão por baixo... Vá lá, que tinha a sorte de ser menino.
Os anos 80 a 80 à hora eram assim. O mundo parecia girar sempre na direcção errada e toda a gente com mais de 28 anos era terrivelmente responsável e estúpida. O Herman vibrava na TV e o que havia de mais sensual em horário diurno eram as locutoras de continuidade. A actriz mais sexy era a Helena Isabel que me deixava louco e as coelhinhas do Tony Silva duravam horas na minha cabeça. O Dallas fazia-nos agarrar à Caixinha Mágica horas a fio e esperar que o JR fosse, quem sabe naquele episódio, vencido pelo Bobby, o bonzinho. A Sue Ellen agarrava bebedeiras de meia noite enquanto a prima loura mostrava as mamas em horário nobre. A Super Mulher aparecia aos sábados bem como o Buck Rogers e o seu fiel amigo, biri biri biri. Já aos Domingo, Luis Pereira de Sousa e/ou Julio Isidro alternavam na animação - e que animação.
No panorama nacional, tínhamos terroristas à solta e assaltos a bancos de vez em quando, o que nos fazia sentir, a nós, malta jovem, um certo cosmopolitismo latente a despontar. Já não era idade para as matinés do Loucuras mas nem sempre era fácil entrar à noite noutros locais tipo Bananas, BBA, News ou até mesmo Coconuts. Os bares da moda para quem morava na Linha eram todos onde se pudesse apanhar uma “carroça” sem gastar muito, onde houvesse miúdas giras e música porreira. Nessa altura, acho que todos os bares eram assim.
A escola era apenas uma passagem e os objectivos de vida tinham uma duração de 24 horas. O dia seguinte era apenas isso a importância que ganhava ou não dependia do que se tinha para fazer. Na escola era bom estar com os amigos, com as amigas e uma seca ir às aulas. Os livros ficavam em casa e o caderno “geral” ia dobrado no bolso de trás das calças. Sempre A4, quadriculado e preto. Isto a partir do segundo período, porque no primeiro ainda havia um caderno forrado com fotos de surf, modelos nuas ou quase, palavras chave e muita cor. Era sempre um bom cartão de visita para adquirir estatuto. E era sempre uma forma delas meterem conversa “deixa-me ver esse caderno”. A noite ainda era mágica e as 7 da manhã funcionavam como um patamar que, uma vez atingido, garantia porra nenhuma mas de uma importância tal que fazia impressão. Nem que se chegasse a casa às 3 e se passasse 4 horas a jogar tetris. 7 da manhã eram 7 da manhã. Os transportes mais usados eram a pendura de mota, a mota emprestada, o 51 de Alcântara para Algés ou o combóio para Lisboa. À vinda, dependia da hora. Não foi uma nem duas (nem 3 for all that matters) que viemos a pé do Cais do Sodré até Linda a Velha. O tempo não tinha limite e os relógios só serviam para ter ou não mais pinta. Ficava bem, pronto. Os santos populares eram obrigatórios – mas sem bifanas ou sardinhas que o dinheirinho para a imperial tinha que ser esmifrado. Com a confusão, era mais fácil sacar uma cerveja aqui outra ali sem pagar. Era também mais fácil pendurarmo-nos no eléctrico até Algés. Aliás, acho que o eléctrico a determinadas horas nessas noites tinha tanta gente lá dentro como pendurada. O sexo começava a ser um objectivo, uma necessidade, uma obsessão. Era preciso arranjar alguém, uma miúda, uma boazona, uma gaja lá da escola, uma que nos desse troco. A linha – para mim- era uma cara bonita. Sem cara bonita nada feito. Sim, tem umas mamas grandes, mas porra, já olhaste bem para aquela tromba? Alguém ficava com ela encostadinho a uma parede. As escadas dos prédios eram bons locais e ser apanhado a fazer coisas boas era uma sina. Quem é que chega a casa às três e meia da manhã? Ninguém, a não ser aquele velhote que nos apanhou e nos disse depois: se eu soubesse o que estavam a fazer esperava um bocadinho lá fora. Grande. Os 15 anos foram isto tudo e muito mais que o álcool deve ter apagado e as memórias recentes não deixam vir ao de cima. As asneiras foram muitas, a irresponsabilidade, o perigo. Mas como ao menino e ao borracho põe deus a mão por baixo... Vá lá, que tinha a sorte de ser menino.
1 Comments:
O 32 também servia para quem ia para os lados do Restelo. E eu com 15 anos ainda eram só matinés no loucuras, só pra lá dos 16 é que ia aos outros e não me lembro de ter posto os pés no Coconuts antes dos 18. Lembro-me de um Santo António em que choveu a potes e fomos corridos para casa, no electrico, antes da meia-noite. A adorar cada momento.
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