segunda-feira, setembro 11, 2006

Para o ano choramos outra vez



Nova Iorque para mim sempre foi destino. Queria ir porque queria. Porque devia ser linda aquela cidade. Grande, como nos filmes, linda, como nos filmes, e ela própria, como nalguns filmes.
Mas enquanto não ía, sonhava com ela. Com o Chrisler - que já era para mim o edíficio mais bonito da Big Apple antes de lhe poder tocar - o Empire State, o Madisson Square Garden, a Central Station, o Guggenheim, eu sei lá. Eu queria sentir aquele chão todo debaixo dos meus pés.

Um dia na televisão, tudo ficou diferente. Escuro como a noite. O terror instalara-se. O medo tomara conta de todos. O inferno tinha descido sobre a minha cidade.
Nesse mesmo dia, chorei. Chorei quando vi as torres cairem, uma após outra, como um castelo de areia que não se consegue suster. Odiei todos os tinham planeado e levado a cabo tamanha monstruosidade. Acreditei em tudo o que vi.
Hoje sei que morreram quase 3 mil pessoas naquelas torres. Morreram milhões de sonhos. Novos e velhos ficaram ali. Homens e mulheres. Ali ficaram quase 3 mil pessoas.
_____________________________________________________

Dois anos depois pisei o aeroporto de Newark. Queria ver tudo. A minha cidade imaginada e vista em fotografias e filmes era tal e qual. E mais. Era mais vida, mais gente. Mais bandeiras às janelas e muito mais solidão.
E então fui ao Ground Zero. Ao buraco com 6 enormes andares de profundidade e muitos hectares à volta. Ao buraco que visto cá de cima fazia de enormes camiões pequenos brinquedos. Ali, uma enorme cruz feita com vigas retorcidas recuperadas dos escombros. Ali, enormes paineis com os nomes de todos os que lá ficaram naquele dia. Ali, onde por entre os turistas, algumas pessoas choravam e se viam nos postes mensagens de coragem e muitos, muitos folhetos colados com fita cola, enormes fotografias e aquele grande título: Missing.
Impressionou-me ver aquilo. Estar ali onde 2 anos antes começara o inferno e uma vida nova para todos nós.
Nesse mesmo dia, ao sair de um Starbucks, um camião dos bombeiros irrompia por entre os carros. Tirei a máquina e disparei. Queria fazer mais fotografias mas o enorme grito da sirene não me deixou. Era o mesmo grito que 2 anos antes ouvira na televisão. Ouvira na rádio. Aquela sirene mata uma pessoa.
Regressámos a Lisboa - nem por acaso - no dia 11 de Setembro.
Não sou piloto nem conheço rotas. Não sei se é sempre assim mas nessa noite, levantámos e passámos por cima da cidade. O Chrisler estava iluminado. O Empire State exibia as 3 cores da Stars & Stripes. Central Park, todo iluminado, parecia ainda mais bonito e lá em baixo, onde durante tantos anos o skyline de Nova Iorque saltava para mostrar ao mundo as suas enormes Twin Towers, dois enormes focos apontados ao céu. E nessa noite, quase 3 mil pessoas se iluminaram.

1 Comments:

Blogger Ana said...

Sempre que vejo as imagens, lembro exactamente do que senti quando vi as notícias. Hoje sinto exactamente o mesmo. Uma tristeza profunda. *

7:03 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home