sábado, setembro 24, 2005

Há uns anos...

..., há uns bons anos, num balcão de um dos poucos bancos privados da altura, um empregado jovem, enfateado, solícito, acolheu um cliente de aspecto distinto, com idade por volta dos 40, voz tranquila e bem colocada. Ao pedido de saldo, o empregado recolheu pausadamente os dados necessários do cliente, que, de forma amigável, os indicou. O saldo do senhor era expressivo, mas mais expressivo ainda era o facto de a cifra ser antecedida de um curto tracinho, indicando que o distinto cliente, ou alguém por ele, tinham não só esgotado o dinheiro depositado, como já estavam a utilizar o do próprio banco; há quem lhe chame, simplesmente, descoberto. O funcionário, sem comentários para além dum "Aqui tem", entregou um documento com a tal verba, antecedida, recordemos, de um pequeno tracinho. O cliente, educadamente, mais uma vez, agradeceu e despediu-se, olhando para o documento enquanto se dirigia para a porta. Parou, voltou para trás, fez um sinal, discreto mas visível, ao funcionário que se aproximou. "Este é mesmo o meu saldo?", perguntou. Perante a confirmação do funcionário, o senhor largou um ressonante "Foda-se!", e saiu, da forma elegante e discreta como entrou.

NG