quarta-feira, setembro 21, 2005

Então, por aqui?

"Então, por aqui?", disse-me o gajo, como se me conhecesse, ou melhor, ele conhece-me, eu é que não o conheço, só que eu não sou quem ele pensa, ou melhor, ele pensa que eu sou outro. Um pormenor. Mas ele cumprimentou-me com alegria, não foi um "Então, por aqui?" coloquial, foi mais um "Entãooooo, por aquiii?". E só não levei uma palmada nas costas, porque estava a uns bons dois metros do gajo.
Respondi "Eu estou sempre aqui", tentando dar-lhe a perceber que eu não sou o gajo que ele conhece, mas sim outro gajo, que ele até poderia conhecer, dado que trabalhamos no mesmo edificio, mas que, de facto, ele não conhece.
Passado 15 dias, "Então, por aqui?", com a mesma alegria e surpresa por eu estar ali. E eu, estupidamente, senti-me mal com a ideia de lhe dizer que eu não sou, nem nunca serei, o gajo que lhe causa tanta alegria em ver, e tanta surpresa por estar naquele edificio. E desta vez, limitei-me a adiantar um "É verdade!", esquecia a distância de segurança, e lá levei uma palmada nas costas, ou melhor, um palmadão, e o gajo entrou no elevador com um sorriso radiante.
É estranho, mas senti-me tipo escuteiro, que ajuda uma idosa a atravessar a rua: foi a minha boa acção do dia.

NG