segunda-feira, julho 04, 2005

Manhã

Detesto a manhã, tudo na manhã, todos os pormenores da manhã. Detesto números de um só digito, acordar às 6, às 7, às 9 que seja. Detesto pequeno almoço, porque é pequeno e não é almoço. Como coisas que nunca comeria se não fosse manhã: flocos. Nunca comeria flocos se não fosse uma refeição rápida. E esta é outra coisa que odeio na manhã: a urgência. Duche rápido, refeição rápida, vestir rápido, despedidas rápidas. E o fresquinho da manhã juntamente com a luz ténue, meio desfocada. Detesto tudo isso. Mas não lhe consegui fugir. Quando estudava, consegui quase sempre ter aulas à tarde. E aí sim, acordava às 11, fazia tempo até tomar duche e almoçava. Quais floquinhos, quais quê, com um bife é que se começa o dia. O trabalho e a correspondente manhã, logo me agarraram. Acordar às 6! Às 6! 6 é uma excelente hora para um tipo se deitar mas uma tragédia para um tipo se levantar. Mas ainda me vingava ao fim-de-semana, quando a luz solar só me via depois do meio-dia. E o escape de final de semana continuou por muitos e bons anos, até que nasceu a tirana da minha filha. 7 da manhã, 8 com um bocado de sorte e lá está. Acabou-se a ronha, o pequeno-almoço na cama, a leitura de jornais até me doerem as costas. Agora, com a tirana, é levantar e acabou. E entre as 9 e as 10 estamos na praia. E a praia de manhã é verdadeiramente insuportável. É fresquinhha, lá está, fresquinha. Num país com tanta gente com direitos adquiridos, deixem-me ter um, vá lá: o direito adquirido de não frequentar as manhãs.

NG