quinta-feira, agosto 04, 2005

A menina Esmeralda

Às 8 da manhã João chegava. Todos os dias, de todos os meses, de todos os anos. Era uma rotina e como todas as rotinas já não tinha explicação. Mal chegava, ligava o computador e começava a trabalhar. E enquanto trabalhava, tudo o que estava à volta era um cenário, para ele, imutável. Um dia, um colega perguntou-lhe pela menina Esmeralda. "Quem?", perguntou João, enquanto o colega lhe apontava uma rapariga de farda verde, com um pano na mão. "Ela dá umas baldas, inclusive ao chefe" ouviu João do colega sorridente.
A partir daí a rotina alterou-se. Manteve-se a hora de entrada mas o cenário que o circundava passou a ser a menina Esmeralda. Era nova, gira, parecia bem feita - do que se podia adivinhar para além da farda verde - e "dava umas baldas". O momento alto da sua manhã passou a ser quando a menina Esmeralda lhe ia despejar o caixote do lixo. Nesses segundos, João tentava ler um sinal - um toque, um sorriso, um mero bom dia - que indiciasse a "dádiva de uma balda". Nunca aconteceu. Um dia a menina Esmeralda deixou de aparecer, sem aviso prévio, mas a rotina do João nunca mais voltou a ser a mesma. Manteve-se a hora de entrada, mas João olhava sempre em volta procurando uma menina Esmeralda. Uma que lhe "desse uma balda".

NG