domingo, julho 31, 2005

Conforto

Umas colegas solícitas encurtaram-lhe o cabelo e aumentaram-lhe a cadência dos banhos. Trocaram-lhe os óculos por lentes e as camisas de folhos por marcas da Guerra Junqueiro. Do que trouxe manteve apenas o nome, o sotaque e os preconceitos da sua terra. Ficou um ano, tempo suficiente para conhecer as luzes da cidade e fazer amigas e amigos. Depois, foi-se embora, voltando a onde tinha os autores da sua cartilha e mais com quem partilhá-la; e onde tinha a sua casa, o seu quarto, o seu colchão, o seu gato, os seus cheiros, os seus sons. E lá era apenas mais uma, não a que tinha um sotaque giro, nem a que corava constantemente.
Não faltou quem lhe adivinhasse uma vida pequena, tal como a terra sem mar para onde voltou.
Mas lá sentia conforto. E o conforto está muito próximo da felicidade.

NG