segunda-feira, junho 27, 2005

A esquerda e o poder

A esquerda, pelo menos como é entendida em Portugal, nasceu contra o poder. E assim vai sobrevivendo. Ser contra poder é fácil e é popular. O poder é preto, a esquerda é branca. O poder é o mal, a esquerda é o bem. O contra poder não é construtivo, nem realista. Não precisa de ser. Não convém que seja.
E tudo se complica quando a esquerda assume o poder. Passar do contra poder para o poder, implica um choque de realidade. É necessário decidir. E as decisões não podem ser de esquerda. Têm que ser realistas. O que se está a passar com Sócrates, já se passou com Soares (o tal que meteu o socialismo na gaveta). No caso de Guterres, confrontado com a realidade, optou por não decidir.
E a "verdadeira" esquerda, a que não está no poder, após ter rejubilado com a derrota da direita, ou melhor, com a derrota do poder, fica desorientada.
O Barnabé, que nasceu contra o poder (Bush, Barroso e Santana), foi vitima disso. A esquerda no poder tornou o branco e preto numa coisa cinzenta, dando origens a várias esquerdas, a "verdadeira" e a que mete o socialismo na gaveta.
Hoje como ontem, a esquerda não se dá bem com a realidade. E a realidade, que no contra poder pode ser torneada, não larga quem está no poder.

NG