terça-feira, maio 03, 2005

A agenda de Sampaio

Sampaio demonstra um sentido de timing perfeito no que diz respeito aos interesses eleitorais ou eleitoralistas do PS. Quando Sampaio abriu a porta a Santana Lopes, o PS de Ferro Rodrigues era um partido dividido, sem ânimo e profundamente abalado pelo processo Casa Pia. Sampaio sabia que, nessa altura, Santana Lopes tinha grandes hipótese de ganhar as eleições. Sabia também que ele dificilmente conseguiria margem de manobra para uma boa governação, tendo essencialmente em conta a oposição interna (do PSD). Deixou então Santana Lopes "arder", enquanto Sócrates ganhava espaço no PS. Quanto a "queima" estava ao rubro, deixou cair Santana Lopes e convocou as eleições, sendo o principal responsável pela vitória eleitoral mais fácil de que há memória.

Mas a agenda de Sampaio continua. Sócrates, empurrado pelo radicalismo da extrema-esquerda, preparava-se para avançar para um novo referendo ao aborto que constituiria a primeira prova de fogo da nova maioria. Sabendo Sampaio que foi assim que começou a derrocada de Guterres, com o não no referendo ao aborto, assumiu a decisão de não o convocar, poupando Sócrates a uma muito possível derrota e dando-lhe mais tempo de estado de graça.

É a imagem de Sampaio que fica abalada, em especial junto dos militantes do seu partido, o que revela bastante ingratidão. Soares nunca o teria feito, por acautelar sempre em primeiro lugar os seus interesses pessoais. Mas é este último que ficará na história do partido.

NG