quinta-feira, abril 07, 2005

motivação-auto

já trabalhei com centenas de pessoas, na sua maioria homens. muitos deles, demasiados até, permanentemente desmotivados. um dos raros momentos em que os via motivados, era na altura da escolha do novo carro da empresa. após terem conhecimento do plafond, o primeiro passo era a compra de revistas da especialidade. depois, e recorrendo a folhas de excel, as comparações: cilindrada, potência, extras... chegado a uma shortlist, começava a ronda de conselhos, quer dos próprios colegas, quer dos amigos dos amigos dos amigos, que trabalhavam em concessionários das marcas dos carros da short-list. chegavam, assim, a uma shorter list, na ordem dos 3 carros. passo seguinte: ver fisicamente os carros. horas de almoço passadas em concessionários, inundando os vendedores com perguntas sob todos os pormenores e buscando alternativas. resultado final: dois carros. chegava a hora de contactar a área da empresa responsável pela gestão destas coisas, e perguntar prazos de entrega. caso os prazos de entrega fossem diferentes, a escolha estava feita. se fosse o mesmo, nova ronda de conselhos e mais amigos ou dos amigos dos amigos. carro escolhido, respectiva cor, combustível, extras, estofos, etc, etc, etc e encomenda feita. uffff...tempo para partir para outra? não. chamadas diárias para saber se o carro já chegou e se não chegou, porquê, e as férias a chegar, e não sei quê, não sei que mais. carro, finalmente, entregue.

trabalho exemplar: mediante um orçamento, efectuavam uma análise de mercado, identificavam oportunidades, criavam grupos de discussão transversais, testavam as hipóteses, negociavam as alternativas, decidiam o caminho e controlavam a sua execução.
um único senão: todas estas actividades decorriam durante o período de trabalho, com natural prejuízo, muitas vezes total, das tarefas profissionais. quando questionados pela hierarquia pelas propostas que deveriam ter apresentado há um mês, a resposta era: "Oh chefe, tenho tido umas semanas de loucos!". e era verdade.

se conseguíssemos transformar a motivação-auto em auto-motivação, 3/4 dos problemas deste país estariam resolvidos. mas, compreende-se, como é que um gajo se pode concentrar numa coisa que não se sabe quantos cavalos é que tem?

NG